Com uma linguagem fácil, ferina, a estudante Clarice Zeitel descreve como está o Brasil no combate a pobreza e a desigualdade. Lembra nosso Hino quando diz que somos todos filhos de mãe gentil, mas ela alerta que essa mãe está mais para 'maUdrasta'... As expressões: Abundância de inexistência...
Exagero de escassez... são absolutamente verídicas e de muita fluidez verbal, vieram muito a propósito!
Isto que é ser boa de redação! Adorei! Nota 1000000... conteúdo 1000000...
REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE CONCURSO DA
UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES - 29 Jul 2008
'Como vencer a pobreza e a desigualdade'
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência...
Exagero de escassez... Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do
nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a
abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de
responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente
sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que
não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o
Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um
lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que
fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação +
liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela
metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de
escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só
vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim,
igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que
quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam
hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às
vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação
libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não
sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade:
nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do
Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão
confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que
reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas
preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro
pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar
com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe
que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a
um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos...
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.
Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma
madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como
bicho?
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Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina
faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil
estudantes universitários.
Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma
redação sobre 'Como Educação, a Ciência e a Cultura '.
***A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num
livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está
disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.
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